
Um relance sobre os direitos:
A sociedade é constituída por grupos de indivíduos com características heterogéneas quer na idade, condição social, e nível cultural, todavia a Lei fundamental do País, consagra-lhe os mesmos direitos e obrigações, privilégio que os políticos não se cansam de evocar como corolário das conquistas “ Abrilinas “
As raras excepções à regra, com tratamento mais favorecido, (discriminação positiva) são muito justamente as crianças, as mulheres gestantes, alguns diminuídos físicos e mentais e pouco mais.
Um progenitor que maltrate o filho é severamente punido pela Lei e pela consciência públicas, porque a sociedade lhe reconhece muito justamente, direitos que lhe são outorgados universalmente.
Todavia, o mesmo não acontece a um filho, se porventura a sua má formação permitir infligir tratamento indigno aos seus progenitores, porque o mais certo é ficar impune à luz da Lei dos Homens.
A desconsideração social!
Quando a maioria dos Portugueses ultrapassa a barreira da vida útil, devido ao avançar dos anos, sobrevém-lhes a sua morte social.
A sociedade impiedosa, atribui-lhe o novo estatuto de “ velho “ o que significa “ inútil para a sociedade”, epíteto reiterado pelas inúmeras desconsiderações colectivas e muitas vezes familiares.
O Estado como consciência colectiva, assume igualmente um comportamento censurável, atribuindo a maioria das vezes uma miserável pensão, mesmo sabendo que a mesma não irá permitir a sua sobrevivência, sendo igualmente notória a descriminação no atendimento hospitalar, sobretudo na recusa de investigação das suas queixas.
Portugal tem uma das mais curtas esperanças médias de vida da União Europeia
(74,2 anos para os homens e 80,8 para as mulheres). No entanto, os portugueses reformam-se tarde (aos 65,8 anos de idade em média, uma das idades de reforma
mais tardias dos estados membros).
A seguir à Hungria (300 euros) e à República Checa (331 euros), Portugal é o país
Europeu onde as pensões são mais baixas.
O idoso português, irá ser condenado pelo simples atrevimento de não ter morrido jovem e, a sua pena será viver o resto da existência num isolamento deplorável, enjeitado, preterido, desconsiderado, por fim doente, desejando muitas vezes apartar-se desta vida.
A iliteracia, como factor desfavorável!
Este fenómeno é mais grave, nos grupos de idosos cuja escolaridade é básica ou inexistente, por falta de hábitos de leitura, de acesso a informações escritas ou ás novas tecnologias como a internet, afectando sobretudo mulheres viúvas, residindo no tecido urbano de estrutura vertical, em andares altos quase sempre sem ascensor, propicio à intimidade familiar e neste caso infelizmente, à clausura
Os factores ambientais!
Nos meios rurais mais interiorizados, embora com forte tendência a desaparecer devido ao progresso; Ainda se observa, que os filhos ou outros parentes, residem nas proximidades, o que permite a quebra do isolamento total. De resto, a solidariedade da vizinhança ainda é tão genuína e natural, como o fluir do manso ribeiro que alimenta os mimos das hortas.
Mas, nesses lugares por vezes edílicos, apesar de tanta generosidade, observa-se a carência de meios de básicos de sobrevivência, como emprego que gere rendimento estável, assistência na saúde, como médico, enfermeiro, parteira, ou mesmo do mestre-escola e do padre; Obrigando os jovens a procurarem as cidades, deixando os seus idosos à mercê do acaso, morrendo ou ficando incapacitados pelas mesmas maleitas dos seus mais longínquos antepassados.
Que caminho ainda precisamos percorrer?
Que dizer do idoso saudável, com cultura media ou superior, que habita numa grande cidade e convive numa estrutura familiar estável, que mantém hábitos de leitura, se interessa pelo que se passa pelo mundo, tem acesso fácil ao universo cibernético, viaja com regularidade e ainda é capaz de alinhar o pensamento num discurso fluente ou escrita fácil, cultiva amizades, assiste regularmente a espectáculos culturais, participa activamente na vida social e politica, enfim…mantém as mesmas faculdades e prerrogativas de qualquer cidadão de pleno direito?
- Bom! … Com excepção dos políticos, dos herdeiros de fortuna familiar, dos afortunados ao jogo, dos assaltantes de bancos e outras desonestidades conhecidas; -Infelizmente o idoso caracterizado no parágrafo anterior, pertence ainda a um restrito grupo de afortunados, não superior ao que parece a 9% dos nossos reformados.
Sabendo que 70% dos idosos perdem com a reforma um forte poder de compra, e vários estudos concluem, existir interacções complexas e directas entre a capacidade financeira, a cultura, a saúde, o isolamento, a solidão e morte prematura das pessoas idosas; podemos adivinhar o árduo caminho que ainda precisamos percorrer.
Carlos Neves